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#EscritaCriativa Antologia Afrofuturismo “O Futuro é Nosso”, Vol. 3 – Processos e Inspirações

Autores e autoras que compõem o 3º e último volume da antologia afrofuturismo compartilham conosco o processo de chegada ao edital, escrita e finalização dos contos, suas expectativas em relação a publicação e recepção dos leitores e leitoras. Confiram...

"Enquanto relia o edital da antologia, ficou na minha cabeça uma frase que dizia algo como “o Afrofuturismo permite sonhar, então sonhe”, e comecei a lembrar das últimas ideias que tivera. Voltou à minha mente uma história que recentemente havia escrito e nunca publicado de uma astrobióloga que, por acidente, passou a habitar o estômago de uma criatura espacial e a se encontrar com criaturas de todas as partes do tempo e espaço. Assim surgiu o encontro de Maria, uma jovem de 2016 indecisa sobre entrar na faculdade pelas cotas ou não, com ela. “Sendas cósmicas matizadas” surgiu com essa ideia de explorar esse contato entre presente (ou passado) com um futuro não tão distante, e ver no que dava a conversa entre elas; se poderiam, de alguma forma, se ajudar. O conto teve alguma inspiração em Kindred, de Octavia Butler, e viagem no tempo/espaço é uma ideia da qual gosto muito, procurei trazê-la no conto ao passo em que criava a narrativa afrofuturista. Poder participar do terceiro volume da antologia é incrível. Vendo o resultado fiquei muito contente, não achei que seria selecionado, mas era de verdade e é demais saber que estou fazendo parte do afrofuturismo brasileiro."

Wilson de Carvalho

"Meu processo é todo digital e pra criar as Ilustras é bem simples, por ter muita influência do quadrinho eu tento pegar uma cena ou objeto de cada conto, todos eles tem momentos marcantes então por mais abstrato que seja tem um sentimento ou cena q nos marca. Nisso eu visualizo e rabisco sem muitos detalhes pra ver se aquilo que eu pensei funciona, as vezes rabisco mais 2 ou 3 vezes até chegar numa imagem satisfatória e aí sim eu finalizo com cores ou só preto e branco. O mesmo vale pra ilustração da capa, pegar referências, não só dos contos mas de afrofuturismo e juntar numa imagem q converse com a proposta da antologia"

Will Rez (Ilustrador)

"Naquele tempo é um dos contos que mais tive prazer escrevendo, tentei juntar várias de minhas paixões numa única narrativa, então o conto é um prato cheio para quem curte cinema, samba e viagens no tempo. Usei cerca de 30 títulos de músicas do Pixinguinha no decorrer do conto. Elas aparecem no título, no nome das personagens e em diálogos. O músico e seus oito batutas também aparecem no meio da trama. O conto menciona também o pioneiro Oscar Micheaux, uma das primeiras pessoas negras a dirigir um filme que se tem registro. A história se passa entre um futuro distópico onde não há mais novidades e o carnaval do fatídico ano de 1922. Uma empregada doméstica é o elo entre esses dois tempos. Experimentei uma mescla entre a linguagem em prosa dos contos com as estruturas de escrita de roteiro. Em síntese, minhas principais referencias foram a literatura das culturas do samba de Nei Lopes, as ficções especulativas de Octavia Butler e a política dos sons e imagens em movimento de Zózimo Bulbul."

Marco Aurélio

"A personagem Duane me apareceu saindo da estação do transporte subaquático num ambiente de tecnologias avançadas onde o comportamento humano ainda é imprevisível. Na mesma semana, ela voltou algumas vezes à minha imaginação me lembrando que abusadores precisam ser derrotados e que essa é uma questão atemporal. Os vilões existirão no futuro?  Imaginar o amanhã é um desafio que passou a impulsionar a minha escrita, exatamente porque tem a ver com o desconhecido. Nesse caminho nos deparamos com personagens que se conectam com a ancestralidade, tanto já tendo conhecimento de como fazê-lo, quanto de maneira inesperada, como foi o caso de Duane. Em “A Festa”, encontrei esta mulher negra com conflitos internos, e que conta com a ajuda de uma encantada que transita pelo tempo para lhe trazer a paz e o entendimento sobre seu destino.  Escrever esse conto me permitiu acessar um ambiente misterioso, um lugar onde todo o tipo de encontro pode acontecer, e onde o que estava oculto vem à tona com força transformadora. Estou muito feliz por ter conhecido esses personagens e por fazer parte desse livro ao lado de outros autores com olhares tão diversos em torno da mesma meta, que é fabular o futuro."

Sandra Menezes

Ilustração do Conto "A Festa"

""Escrever “Para onde quiser ir” foi um desafio. Não só por ter sido um conto cheio de viagens através do espaço e do tempo, mas por tocar em um dos temas mais fascinantes da ficção científica: a liberdade de ir além. Foi desse ponto que trabalhei a história, tentando imaginar como seria botar essa ideia dentro da vivência preta através da perspectiva de um menino que ganha o poder de ir para onde quiser. Por ser uma criança preta, essa jornada tem um peso bem único, não só por ter um monte de elementos fantásticos típicos da ficção científica, mas por lembrar que existe uma realidade inteira por trás disso. Mesmo com todo o espaço do mundo, eu não seria capaz de dizer o quanto fico feliz em ver essa história saindo em uma antologia da Kitembo. Agradeço toda a atenção e dedicação dessa equipe durante todas as etapas dessa publicação, e espero muitíssimo que as pessoas gostem desse conto e encontrem algo mais nele."

Gabriel Spindola

 

"A linguagem Afrofuturista é utilizada para dar vida à história que conto. A atemporalidade, a construção de futuros possíveis e desfechos imprevisíveis dão o ritmo da narrativa. O meu texto passeia pelo conceito de arte e artefato trazidos em Alfred Gell,ainda nesse caminho, a personagem principal da história mergulha na construção da sua identidade, trazendo conceitos operados em Fanon, utilizando a máscara como algo simbólico que marca a dependência do outro. Na narrativa, pela ótica do mais velho, as resistências culturais se tornam resistências políticas. As culturas de sobrevivência aparecem como tomadas de ações no dia a dia. O momento da negociação, trazido em Stuart Hall é também o momento da luta e da resistência. É assim que Máscara preta, Corpo translúcido se forma, com o entrelaçamento de diferentes pensamentos que constroem a complexidade do povo negro e tê-lo na Antologia Afroturismo 3 é um privilégio enorme, pois é a oportunidade da construção coletiva de vozes de si do nosso povo. ADETOKUMBO!"

Janildes Almeida

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